Papa faz hoje (11.10) abertura do ANO DA FÉ.
Em entrevista para o "Jornal de Opnião", o cardeal dom Odilo Pedro
Scherer, arcebispo metropolitano, falou sobre a 13ª assembleia geral
ordinária do Sínodo dos Bispos, que este ano tem como tema “A Nova
Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã” e sobre o Ano da Fé.
1-Quais fatos motivaram o Papa Bento 16 a convocar a 13ª assembleia
geral ordinária do Sínodo dos Bispos, que este ano tem como tema “A Nova
Evangelização para a Transmissão da Fé Cristã”?
R. A próxima assembleia do Sínodo dos Bispos é “ordinária” e ocorre
dentro do tempo normalmente previsto de 4 a 5 anos entre uma e outra
assembleia ordinária. A escolha do tema é que tem motivações próprias: a
crise bastante generalizada da fé e da prática religiosa, o relativismo
e o indiferentismo religioso, a superficialidade na adesão de fé e a
necessidade de retomar a evangelização, diante de situações e desafios
novos trazidos pelas mudanças culturais e religiosas do nosso tempo.
2- A partir de que considerações o Instrumento de Trabalho norteará a assembléia?
R. O Instrumento de Trabalho propõe a reflexão no contexto do 50º
aniversário do Concílio Ecumênico Vaticano II; partindo de Jesus Cristo,
“Evangelho de Deus para o mundo”, que a Igreja anuncia e testemunha aos
homens de todos os tempos, trata-se, a seguir, dos vários cenários que a
missão evangelizadora da Igreja atualmente enfrenta; fala-se da missão
da Igreja, que é permanente e sempre atual. Depois o Instrumento de
Trabalho trata da transmissão da fé e da revitalização da ação pastoral
da Igreja que, na minha visão, são as questões centrais do tema do
Sínodo.
3-De que critérios e colaborações os organizadores do Sínodo se valeram para eleger essas questões como fundamentais?
R. Uma consulta ampla às Conferências Episcopais de todo o mundo, ao
próprio Conselho do Sínodo dos Bispos e a outros Organismos da vida
eclesial ajudaram a escolher essas questões.
4- Em linhas gerais, qual o teor das contribuições oferecidas pelas dioceses brasileiras ao Instrumento de Trabalho?
R. Elas também foram consultadas e houve contribuições importantes,
mesmo se não foram tão abundantes; essas contribuições referem-se a
experiências já adquiridas no Brasil na promoção da “nova
evangelização”, como as missões populares, as visitas domiciliares, os
projetos de evangelização da CNBB...
5- O termo Nova Evangelização remete a ações junto às populações da
Europa que depois de difundirem o cristianismo no Novo Mundo, hoje se
mostram afastadas da fé. A Igreja pretende alcançar outras comunidades
com a Nova Evangelização, especialmente na América Latina onde, além do
arrefecimento da fé, tem-se presenciado o surgimento de inúmeras seitas
religiosas?
R. Um dos motivos para a criação do Pontifício Conselho para a Promoção
da Nova Evangelização, pelo papa Bento XVI, foi a renovada ação
evangelizadora nos lugares de “antiga evangelização”, como o Oriente
Médio, o Norte da África e mesmo uma parte da Europa. O Sínodo, porém,
tem uma preocupação ainda mais abrangente e trata da necessidade de
fazer isso em todo o mundo, mesmo nos lugares de evangelização
“recente”, como a América, a Oceania e a África. O motivo é que a missão
da Igreja nunca pode ser tida como “já concluída” e precisa ser
promovida sempre de novo.
6- A Nova Evangelização deveria também voltar-se para o interior da própria Igreja? De que forma?
R. Evidentemente, a própria Igreja, entendida como a Comunidade dos
batizados, é sempre a primeira destinatária da evangelização; há muitos
membros da Igreja que nunca foram evangelizados e, outros, que esfriaram
na fé, ou abandonaram a prática religiosa e a fé; eles são filhos da
Igreja, que precisam muito de uma nova evangelização. E as instituições
da Igreja e suas organizações pastorais também precisam de um sopro novo
de evangelização, para reflorescerem e produzirem novos e abundantes
frutos.
7- No Brasil, especialmente, como a Nova Evangelização poderia acorrer?
R. De fato, ela já está ocorrendo; aos poucos, cresce a consciência de
que é preciso colocar-se novamente “em estado de missão” ; muitas novas
formas e métodos de evangelização estão aparecendo, embora isso ainda
precise desenvolver-se muito mais. No Brasil e na América Latina, em
geral, fala-se de nova evangelização desde a Conferência de Santo
Domingo (1992); tratou-se também disso no Sínodo para a América (1998)
e, de maneira incisiva, na Conferência de Aparecida (2007).
8- Por que um Sínodo sobre Nova Evangelização, se há tantos anos se vem falando sobre esse tema na Igreja?
R. Porque agora se percebe de maneira mais clara que isso não é apenas
uma necessidade local, em algum país, mas em todo o mundo. Os tempos
mudaram e a Igreja está atenta aos sinais dos tempos, dando-se conta de
que é preciso retomar o processo evangelizador, que nunca pode ser dado
como “já concluído”, de uma vez para sempre. O Papa João Paulo II, na
Carta Apostólica “Novo Millennio ineunte” (Entrando no Novo Milênio,
2001), observou que a evangelização, longe de concluída, estava apenas
no começo; e convocou todos os fiéis a colocarem mãos à obra... Não é a
primeira vez que se faz necessária uma nova evangelização; mesmo sem
usar esse conceito, o mesmo processo já aconteceu várias vezes na
história da Igreja. E sempre trouxe muitos frutos.
9 - Que novidades o termo Nova Evangelização poderia oferecer em relação à evangelização realizada continuamente pela Igreja?
R. Em primeiro lugar, coloca em evidência que não podemos pressupor que a
evangelização já foi feita; quando olhamos atentamente para a
realidade, constatamos que a evangelização precisa retomar sempre, mesmo
nas famílias e comunidades tradicionalmente bem católicas... Por outro
lado, as atitudes e os métodos precisam renovar-se; já não basta dizer
que temos igrejas e essas estão abertas para todos, que todos são
bem-vindos... É preciso ir ao encontro dos que não vêm e não virão, se
não forem buscados e chamados; além disso, não basta uma evangelização
superficial, mas é preciso ajudar as pessoas a fazerem uma experiência
forte e alegre da fé, cuidando da iniciação à vida cristã em
profundidade; diante da diversidade religiosa e do ambiente não mais
favorável à transmissão espontânea da fé, é preciso, mais do que nunca,
formar bem o cristão católico e dar-lhe condições para que sinta
segurança e alegria na sua fé e na sua Igreja.
10- Como o senhor avalia a realização do Sínodo dos Bispos, no momento
em que se comemora os 50 anos da convocação do Concílio Vaticano 2º , os
20 nos do Catecismo da Igreja Católica e a convocação do Ano da Fé pelo
Papa Bento 16?
R. Todos esses fatos e eventos estão relacionados e se completam. O
primeiro objetivo da convocação do Concílio Vaticano II, pelo Beato João
XXIII, foi o “incremento da fé católica”, ou seja, a renovação, o
revigoramento e a renovada difusão da fé da Igreja; o Catecismo da
Igreja Católica, que completa 20 anos, foi um fruto do Concílio e devia
ajudar a alcançar aquele objetivo primeiro; e o tema do Sínodo deste ano
vai nessa mesma linha. Creio que este é um momento de Deus na vida da
Igreja e traz a esperança de frutos abundantes.
11- Que papel tiveram os leigos, tão valorizados pelo Vaticano 2º, na
produção do Instrumento de Trabalho, e como poderiam atuar na execução
das propostas apresentadas pelo sínodo?
R. Normalmente, os leigos também deveriam ter participado da elaboração
de propostas para o Sínodo no momento das consultas as dioceses; posso
afirmar que, em São Paulo, houve a participação dos leigos nessa
consulta. Na assembleia do Sínodo serão elaboradas muitas propostas e o
Papa, como sempre costuma fazer, fará o Documento pós-sinodal, na forma
de uma Exortação Apostólica; o que se espera, é que os resultados do
Sínodo sejam acolhidos bem por todos e, a partir deles, a nova
evangelização seja feita com o esforço e o dinamismo de todos.
12- Que frutos a Igreja pretende colher com o sínodo?
R . Na obra da Igreja, os frutos nem sempre aparecem logo, mas tenho a
convicção que serão muitos; eles não serão automáticos, mas dependerão
de nosso esforço, unido à ação do Espírito Santo. Posso imaginar que
surjam muitas iniciativas missionárias novas, Congregações religiosas e
associações de fiéis voltadas para esse fim; e também, uma nova
solidariedade missionária entre as Comunidades da Igreja nas várias
partes do mundo. A Igreja espera e precisa de um novo e amplo despertar
missionário. Mas, como tudo isso é obra da fé, a Igreja precisa, antes
de tudo, renovar-se na fé. Para isso, temos o Ano da Fé, que o papa
Bento XVI vai abrir no próximo dia 11 de outubro, durante a 13ª.
assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a “nova evangelização para a
transmissão da fé cristã”.
Fonte: Arquidiocese de São Paulo
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